terça-feira, agosto 08, 2006

Para Lucinha, todo amor que houver nessa vida!

“Baby, compre o jornal, vem ver o sol”, pois a Lucinha Araújo fez 70 anos! E, se não o seu filho da vida real, estava lá o “Caju” da ficção, o grande ator Daniel Oliveira, que personificou o cantor-autor da “vida louca vida”, na festa de aniversário mais retumbante dos últimos tempos, um setentão que deveria ser convertido em feriado nacional, porque está para nascer mulher mais querida, mais forte e guerreira. Lucinha, que deu a volta por cima depois da prematura partida do filho preletor da rebeldia, feliz ao lado dos muitos amigos, do maridão João, o homem Som Livre, e por aí a noite seguiu, naquele cenário de sonho que é o Palácio da Cidade.

Desde o começo, quando Lucinha planejava a festança, e logo o assunto vazou na imprensa, o Rio vivia em completa ebulição. As amigas ligavam umas para as outras, “fantasiando em segredo” e perguntando se o convite havia chegado. Umas outras, as preteridas - não dá para sair chamando todo mundo, né? - se entristeciam, já haviam até comprado a roupa e estavam “programadas pra só dizer sim”. As mais íntimas da aniversariante, ah, essas sequer se preocupavam com o pedaço de papel: iriam à festa de qualquer jeito, afinal, são tão amigas que, parece, seus “destinos foram traçados na maternidade”.

E eu digo a vocês que quem não foi, perdeu! Per-deu! A noite estava linda, como bem merece a Lucinha. Os amigos, felizes. Cazuza presente no corpo da ficção e na energia total. Exagerado! Caetano, de terno Dolce e Gabbana, cantou e encantou. Gente de todo canto, as várias gerações do Rio em torno daquela que fundou talvez a mais importante obra social do Brasil, a Sociedade Viva Cazuza, que cuida quase solitariamente ( “e quem tem coragem de ouvir?”) de crianças portadoras do vírus HIV, e nem por isso vive aí a se promover, a gritar “viva, Rio!”, a se locupletar das verbas públicas. Lucinha só conta com os amigos. “Se você não for forte, seja pelo menos humana”, cantou o filho poeta. Lucinha é forte e humana!

E como tem amigos! De Lilibeth Monteiro de Carvalho a Ivo Pitanguy (Marilu ao lado), de Flora a Gilberto Gil, de Paula Lavigne a Lou do Boni (com Boni de mãos dadas), estava todo mundo lá, em meio àquela iluminação hollywoodyana concebida pelo Ovídio, o sabe-tudo de decoração de festas. No fundo musical eletrônico, se alguém tinha dúvidas, eu conto: só deu Cazuza!

“Amor, meu grande amor, não chegue na hora marcada”, ecoavam as caixas de som, mas a turma chegou foi antes da hora, todo mundo ansioso para abraçar a aniversariante, uma mulher que não tem “inimigo no poder”, como o filho cantou buscando uma ideologia para viver. Pra lá e pra cá, naquele “museu de grandes novidades”, os convivas se abasteciam de generosas doses de Moët Chandon, e a ordem da dona da festa era dançar. Para isso foi contratada a banda Celebrare, sempre ótima, por sinal.

Cazuza cantarolava que “nas noites de frio é melhor nem nascer”. Enganadíssimo! Moinhos de vento! Na sexta, o povo estava encasacado, mas feliz da vida celebrando sua mamãe, impulsionando a grande roda de sua história. Se “todo mundo é parecido quando sente dor”, quando está feliz também é assim: todos se abraçavam, todos emocionados.
Lucinha parece personagem de ficção. Trata o manobrista, o porteiro, o pedinte de rua com a mesma consideração com que trata o prefeito César Maia, que cedeu o lugar para sua festa. É da burguesia tão contestada pelo filho (“enquanto houver burguesia, não vai haver poesia”), mas sabe bem que “o mundo é um moinho”, faz “triturar” nossos “sonhos tão mesquinhos”, como escreveu Cartola e Cazuza cantou.

Àquela noite, Lucinha parecia ter conhecido “os jardins do Éden” e queria nos contar: feliz, sorridente. Firme. Convencida de que “o céu faz tudo ficar infinito”. Sobre o palco, Caetano, Daniel Oliveira e Bebel Gilberto formaram um lariri fortíssimo e conjunto em torno da amiga. Um coral que contou também com a voz da aniversariante, e daí que o povo pediu: “me dê de presente o seu bis, pro dia [amanhã] nascer feliz”.

O jantar estava delicioso. Se é que o povo estava lá preocupado com isso. A frase de ordem da noite era “todo amor que houver nessa vida”. Claro que houve lágrimas. De emoção. Difícil não chorar em uma ocasião dessas, quando tudo flui positivamente, quando se sorri até para quem não se conhece, ou para com quem se brigou, com quem se aborreceu. Tudo na intenção da Lucinha. E tudo nesse Rio de Janeiro onde “uns viram o Messias e andam no mar, outros andam armados para te matar”, escreveu Cazuza em “Andróide sem par”.

Gilberto Braga estava também. Talentoso. Sorridente. Elegante. Gilberto é um dos cinco homens mais elegantes do Brasil. E dos maiores amigos de Lucinha! Atento a tudo e a todos, pois autor de novelas está sempre de olho ao redor, para transpor para a ficção, parabenizava o excelente Daniel Oliveira (o Stuart Angel do cinema) pelo trabalho no filme Zuzu.

Lucinha, de vermelho-cor-da-vida. Talvez a única a vestir essa cor. Paula Lavigne parecia uma pepita, um lusco-fusco dourado-prateado. Os homens, quase todos, engravatados, mas Boni, como os vinhos que ele tanto aprecia (cada vez melhor), foi de jaqueta preta Prada. O Boni também é chique. Sobre o bolo, verde com rosas cor-de-rosa, homenagem à Estação Primeira de Mangueira, escola de Lucinha, dois bonecos representavam um a aniversariante, tocando violão, e o outro, seu filho, calça jeans e camiseta branca, como Cazuza bem gostava.

Lucinha, simples, parecia dizer a cada um dos presentes: “tudo que ofereço é meu amor, meu endereço”.


Na foto, Cazuza com Lucinha na festa das Bodas de Prata dela com João, em 1982. Reprodução / arquivo pessoal de Cazuza.

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