“Nem sempre os milhões ajudam a conseguir o que se quer na vida”
(Aristóteles Onassis)
A neta do homem que dizia que não tinha classe, “mas as pessoas de classe estão dispostas a perdoar esse defeito aos muito ricos”, casou-se sábado em cerimônia decantada em jornais, revistas e televisões do mundo inteiro. Athina Hélène Roussel, que não tem Onassis na carteira de identidade, mas já providenciou, pois só assim poderá assumir a presidência da fundação criada na Grécia por seu avô, agora também assina o Miranda do marido Álvaro, Doda para os íntimos e os nem tanto. O rebu parou as cercanias da Fundação Luisa e Oscar Americano, no Morumbi. A fila quilométrica dos automóveis dos 1.200 convidados demorou horas para terminar, por conta da interminável conferência da identidade de cada um dos seus motoristas e caronas. O pai da noiva, Thierry Roussel, não veio. Sabrine, filha adolescente dele, marcou presença (com um casal de seguranças).
A porta da festa parecia uma operação na Faixa de Gaza. Havia tantos seguranças, mas tantos (só não se viu cavalaria armada, o que foi uma gafe, afinal, o noivo é cavaleiro), que por um momento imaginou-se que iria chegar de Washington o dono do mundo George “Dábliu”. Alarme falso. Mas não era a segurança que a gente está acostumado a ver por aí na porta do Chopin: os fortões estavam todos compenetrados, não fitavam nos olhos os convidados e, feito membros de esquadrões antibombas, só se ocupavam dos seus rádios de comunicação. Com quem falavam e gesticulavam, meu Deus? Pareciam integrantes da trupe da Denise Stoklos, aquela do teatro da mímica. Para se ter uma idéia, todo o quarteirão que abriga os 75 mil metros quadrados da fundação estava guarnecido desses homems-armários. A ordem era “conter qualquer paparazzo”.
Mas o número de seguranças era ainda maior na área reservada ao estacionamento. Porque aí, à turma se juntava o batalhão dos manobristas. Se ser rico é complicado, imagina bilionário, gente. Se para entrar lá fora no portão o motorista e todos os passageiros eram obrigados a exibir os convites-cartões magnéticos, depois de entregar o possante para alguém guardar, era a mesma coisa. Um segurança falava em voz alta (a tal da falta de classe preconizada pelo velho Onassis lá no primeiro parágrafo): “todos com o convite e a carteira de identidade à mostra, por favor”. Não, não pediram exame de grupo sangüíneo.
Havia outra ordem dos noivos: ninguém poderia entrar com câmeras fotográficas, nem com aparelhos de telefone celular que captam imagens. Mas como se iria revistar as bolsas das madames? Resolvida a questão: alugaram detectores de metal. É. Uma entrada de Banerj básica para os bacanas. Não, não havia porta giratória. Justificativa: “Athina é tímida, não gosta de aparecer, não quer fotos do casamento nas páginas das revistas”. Ah, bom.
Mas acho que vai ser difícil. Diante da quantidade enorme de fotógrafos na porta do rebu, duvideodó! É claro que algum ousado pulou o muro, disfarçou-se de garçom, pôs para trabalhar aquela teleobjetiva estilo Nasa dentro de um helicóptero. Esta semana veremos as fotos “proibidas” por aí. Quer apostar? Um fotógrafo de uma revista, inclusive, chegou a bater seu automóvel no carro do Doda, no meio da tarde, em busca da foto exclusiva. Ficou famoso: apareceu dando entrevista a Renata Ceribelli no Fantástico, ontem à noite, você viu? (estou fechando a coluna 13h de domingo).
Aliás, havia um helicóptero de uma agência de notícias sobrevoando a festa! Imprensa de todo o mundo presente. Afinal, a noiva é tida como a mulher mais rica do universo, depois do Criador. Grécia, França, Argentina, EUA e Brasil representados por jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas. Todos barrados no baile, feito na música do Eduardo Dusek. O máximo que os menos ousados conseguiram foi fotografar alguns convidados chegando em seus automóveis, assim mesmo quando os vidros escuros estavam abertos. Ricardo Almeida abriu a janela do seu possante, afinal, ser visto entrando em uma festa dessas é marketing positivo no seu métier, que é o da moda.
O povo começou a chegar às sete (cerimônia estava marcada para as 19h30, com uma imagem de Santa Bárbara e uma enorme cruz branca vazia no altar – missa católica e bênção grega sem quebração de prato). Às 21h50 foi dada a ordem: nenhum automóvel entra mais. Só se for o papamóvel. Imagina se Sua Santidade iria se dar ao trabalho de tirar do closet suas novas batinas encarnadas da Prada!?! Houve um atraso considerável exatamente pelo fato de se ter de receber o povaréu, instruir a turma a passar pelo detector de metal e fazer a trabalhosa conferência “cara-crachá”, para ver se a foto da carteira de identidade era mesmo do convidado ou de algum penetra com documento falso. Afora o estacionamento dos automóveis! Que estresse! E tudo isso ao mesmo tempo. Nem a equipe da Helena Brito Cunha conseguiria.
Precavido e simpático, Doda chegou às 17h30 dirigindo seu próprio Audi, ao lado do melhor amigo, Rodrigo Pessoa. Athina, tímida, como já disse, que ficou três dias sem sair de casa, preferiu uma entrada estratégica (as tímidas famosas sempre entram e saem pelos fundos, com medo dos fotógrafos, triste sina). A coroada chegou às 15h e passou por aquele ritual intitulado “dia de noiva”, com tratamentos de beleza, massagens, cabeleireiros, maquiadores. Fico pensando no estresse de cada um desses profissionais no trato com madame. “Madame é tímida, né, convém não apertar muito na hora da massagem”... “Cuidado com o secador, para não queimar o couro cabeludo de madame”... “Não vá tirar bife da unha de madame, heim, manicure!” (que pintou as unhas de madame de branco). O cabeleireiro Marco Antônio de Biaggi, parecidíssimo com o Clóvis Bornay na meia-idade, nega ter cobrado R$ 25 mil para pentear madame.
Doda vestia um terno feito pelo expert Ricardo Almeida. Quer dizer, expert é modo de dizer, porque o Ricardo não conseguiu aplacar aquele ar sudorento e imprimir um chiquê no presidente Lula (chamem o figurinista do Jô!). Almeida foi ao rebu acompanhado da mulher, dona Agatha, que bem poderia se chamar “A gata”. O Valentino, cabelo de graúna esmaecida, que desenhou o vestido da noiva, sequer atendeu ao RSVP do cerimonial. Ricardo Novaes, filho de Cris Baumgart e José Augusto Novaes, fez o papel de pajem. Viviane, filha de Doda, o de dama-de-honra.
Leonardo e Viviane Senna foram. José Victor Oliva também. E mais: Chella e Moise Safra, Yara e Rolf Baumgart, o espadaúdo nadador Gustavo Borges, Caco Johannpeter com sua bonita mulher, Janete e Paulo Boghosian, Cristiana Arcangeli e Fausto Ferraz. Do jet set internacional? Você perguntou? Ninguém. Nem mesmo o príncipe Bruno Astuto, descendente direto de Maria Antonieta, a dos brioches. Tom Cavalcante chegou anunciando: "A noiva é minha prima e não dá para não prestigiar casamento de prima". Está certo - e de olho na herança da prima, creio.
As flores da festa eram brancas. Chris Ayrosa decorou. Uma numerosa orquestra fez coro para a entrada da noiva e depois para o remelexo dos esqueletos dos convidados. A noiva entrou nos braços do sogro, Ricardo Miranda, um vendedor de seguros bem sucedido. Imagina se o homem é escolhido para “segurar” os bens da nora? Está feito. Vestido dela era de tafetá, sem bordados, como convém. Um terço tomou o lugar do buquê. O véu era longo, e minha avó diria que está errado. “Véu, só para menina virgem. A noiva já mora com o noivo há três anos”, posso imaginar a velha ao pé do meu ouvido. Pequenos abajures iluminavam as mesas. Para ligá-los, a miscelânea de fios elétricos foi camuflada embaixo do piso para não dar choque no povo. Choque só o rosa do vestido daquela socialite, como é mesmo o nome dela? Havia flores cor-de-rosa estampadas nas cúpulas, e rosas-cor-de-rosa em vasinhos pequenos fazendo o conjunto.
Todos os convidados ganharam de presente uma corrente de prata (prata?) com um cristal (cristal?) assinada pela joalheira Bibinha Paranhos (Bibinha?). Teve gente metida a conhecer tudo que disse que a festa estava “simples”. É. Simples! Imagina...
PS. Na foto, Athina e Doda em Londres.
PS2. Reprodução da coluna publicada na Tribuna da Imprensa, segunda-feira, 05/12.
PS3. Estou saindo de férias. 20 dias. Eu volto!
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