Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro

No ano de 2002, procurei o coronel Jorge Lopes, Relações Públicas do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro, levando embaixo do braço o projeto de edição de um calendário para contar a história da corporação. A folhinha deveria ser ilustrada com fotos dos soldados do fogo, sem camisa, para agradar ao mulherio.

 Homem à frente do seu tempo, o coronel Lopes, seus 60 anos incompletos, cantor seresteiro nas horas vagas – e até como segunda profissão, pois um tenor fabuloso –, foi todo ouvidos e prometeu levar o assunto ao comando-geral. Dezenas de reuniões depois, minha empresa, a Mago Idéias, lançou com festa retumbante na Cinelândia, no Cine Odeon, o Calendário Heróis do Rio, noite precedida por inserções em toda mídia – eletrônica e impressa – e ilustrada pela presença da Orquestra Sinfônica do Corpo de Bombeiros em plena calçada, instalando um inesperado bailão a céu aberto.

 Três domingos seguidos no Fantástico, CNN, Saia Justa, Hebe, Gugu, etc., etc., até chegar ao New York Times, porque, quando ponho a mão, é para arrasar o quarteirão – as bibas invejosas ficam fulas da vida com isso.

 O Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio, em todos seus 150 anos de existência, jamais teve o volume de mídia espontânea, positiva, que o Calendário Heróis do Rio proporcionou. Minha equipe fez os cálculos, à época: se tivesse de pagar por todas as inserções, a corporação deveria desembolsar a bagatela de R$ 20 milhões. É.

 Bombeiros cariocas viraram galãs de novela. Gilberto Braga, dileto, querido, escreveu “Celebridade” e criou Wladimir, o bombeiro do Marcelão Faria, inspirado no calendário. Em “Celebridade”, um capítulo inteiro falou do lançamento da nova edição do calendário, com direito às presenças dos bombeiros da vida real contracenando com os artistas na boate Fama (sentada num canto, ao meu lado, presenciando tudo, minha querida Lígia Azevedo deve lembrar. Claro, Lígia estava lá para tentar uma apariçãozinha na novela, como é o seu estilo, mas não deu).

 Soldados do fogo, até então simples mortais, mas de olhos azuis, viraram galãs da noite para o dia. Deram autógrafos e viajaram o país inteiro, cobrando por “presença VIP” nos mais variados eventos. Casamentos foram desfeitos, outros refeitos. Tudo depois do Calendário Heróis do Rio. Alguns bombeiros enlouqueceram e até se depilaram.

 Páginas na internet foram criadas, o site do calendário saiu do ar, 3 milhões de pessoas em um mês acessando. Capas de revistas, primeiras páginas de O Globo, capa do ELA assinada pela editora – fato inédito – Mara Cabalero, saudosa e querida. O Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro jamais seria o mesmo.

 Depois do meu calendário, várias pessoas tentaram imitar, até uma cabrocha acostumada a comprar o posto de rainha de bateria nas escolas de samba, lançou um seu, mas tudo degringolou para escândalos recorrentes. Era calendário para tudo quanto era lado, mas eu já havia lançado o meu, não tinha graça. Hoje, até uma novela trata dos bombeiros, na Record, mas o Gilberto Braga já escreveu a sua, não cabe mais. Depois de que o Gilberto escreve, não adianta fazer igual, porque não cola.

 Escrevo isso tudo porque fiquei indignado com a notícia – belo furo de O Dia – de que toneladas de donativos dos cariocas para as vítimas das enchentes de Santa Catarina foram incineradas (foto/reprodução) por ordens de um comandante do Corpo de Bombeiros. Deu pena ver a foto daquela fogueira de roupas e alimentos, enquanto nossos irmãos do Sul andam passando fome e frio. O comandante foi afastado, mas o estrago já foi feito. Vai ser difícil limpar a barra dos bombeiros, porque um ato desses mancha toda tropa.

 Está na hora de o Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro lançar uma nova edição do Calendário Heróis do Rio.

Na foto (clique!), de minha autoria, o “famoso” capitão Albucays, hoje major, na capa do primeiro calendário, lançado na “vida artística” pela Mago Idéias.

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