Certo dia, Marcio Garcia me perguntou: “Ciomar, vamos para Angra”? Eu, que durante um tempo vivi em função do “Ciomar”, claro que topei. Ele me pôs dentro de seu Land Rover cinza-chumbo, no banco da frente colocou o Júnior, da mesma turma, e lá fomos nós para “uma festa na Ilha do Arroz”. Junior é ator, preferido do Jorginho Fernando, mas isso é assunto para outra ocasião.
Antes da festa na ilha, porém, paramos em um condomínio para tentar um quarto na casa de um amigo, ou conhecido, do “Ciomar”, do qual não me lembro o nome. Conseguimos um quarto para os três. “Ciomar”, o reizinho sempre venerado por seus amigos, ele é realmente apaixonante, cativante e de espírito muito bom, sobre a cama. Eu e Junior no chão, em colchões, um do lado, outro do outro da cama, velando o sono do nosso amigo, que nem era lá grandes artistas globais assim, mas já caminhava a passos largos em direção à fama retumbante – pois já havia aparecido bem, na MTV, onde apresentara um programa, e vivido o pescador na novela das seis, não me pergunte nomes de personagens, tampouco de novelas, porque não lembro nem a cor da minha cueca – ah, na uso cuecas.
Nossa estada em Angra deveria durar três dias, sexta, sábado e domingo, e o rebu na ilha seria domingo, antes, porém, iríamos navegar naquele marzão, em lancha pilotada pelo Ciomar, nos esbaldaríamos. Passaram a sexta e o sábado, e começou o rebu, domingo, no Arroz.
Eu, que sempre forcei uma barra para estar em acontecimentos sociais, mesmo os mais caretas, certameente que iria me entediar rápido e fácil com um furdunço daquele tipo. Era pitboy pra tudo quanto era lado, marias-chuteiras, popozudas e afins, talvez a maior concentração de gente linda que já vi na vida – nem em Mikonos tem igual.
Rebu. DJ tocando, bebida, o baseado rolando lá no canto, longe do “Ciomar”, porque o “Ciomar” odeia drogas, atleta que é. Um futum de skank de enjoar qualquer Fernandinho beira-mar.
Logo comecei a desejar voltar para casa, o que disse ao “Ciomar”, mas ele, querendo comer uma loura, deu-me uma piscadela de olhos que eu conhecia bem. Quando algo o desagradava, “Ciomar” piscava pra mim e assim me “dizia”. Eu aquiesci, como sempre, aliás, com “Ciomar” não se discute, e eu, verdade seja dita, nunca tive motivos para brigar com ele.
Não sei o que houve que, no meio daquele povo, alguém me gritou: “Marcio, você quer ir embora? Ela também quer”.
“Ela”, no caso, era a Luciana Gimenez, então apenas modelo conhecida lá fora que passava férias no Rio, sua terra natal. Naquele fim de semana, Luciana era o centro das atenções, pois estava na capa e em oito páginas da “Caras”, a febre da “imprensa de celebridades” da época – anos 90.
Sorrisos mútuos de cumplicidade, logo ela me acenou que havia conseguido “um barco”, que iríamos “para uma ilha” e que seguiríamos “para o Rio de carona”.
Convenci o Ciomar a me deixar ir – o “Ciomar” tem de autorizar, sempre, e eu gostava, me divertia com este cuidado que ele tinha com os amigos e que, espero, sua venerada patroa não tenha conseguido destruir.
Embarcamos em um iate de terceiro time, jeitosinho, mas nada de grandes embarcações como o navio particular de minha amiga Elzita, no qual navego pela Baía de Guanabara vez por outra, tal e qual um Valentino sem cabelos pintados.
Eu e a Luciana, Luciana e eu, mais uma família, com uns amigos divertidos, dentro de um barco. Um casal desses amigos morava em Londres, acho que ainda mora, ele um cara divertido, ela idem.
Fomos parar na ilha de uma mulher-purgante, metida a besta, sem racé algum, dona de um restaurante no Rio, hoje falecido (o restaurante), de quem não lembro os nomes, nem dela, nem de sua empresa, mas lembro que o restô, à época, era ponto de encontro de “bacanas”. Não sei, mas acho que o nome dela era Vanilse, sei lá, se alguém lembrar de um ser com este nome, ou com uma alcunha parecida, que tinha um restaurante no Rio, acho que no Recreio, que me acene.
A ilha realmente é um escândalo, enorme, e ao chegar fomos, eu e a Luciana, conhecer o território. Luciana, pelo menos aquele dia, estava muito divertida.
Ela agachou, mijou, fumou, contou-me de sua vida em Londres, admirou o lugar, mas nada assim muito íntimo, afinal, estávamos nos vendo pela primeira vez ali. Quer dizer, nada de muita intimidade é forma de falar, porque ninguém agacha na frente do outro para mijar, assim, de uma hora para outra, mas ela o fez, e eu virei o rosto, claro, o que não faria se fosse o Malvino Salvador, que pra mim é Bemvino, mas isso é assunto para outra ocasião.
Luciana comentou sobre as fotos na “Caras”, estava eufórica com a mídia. Eu fazia um “freela” para a revista. Na época, integrei a equipe da Graça Monteiro, a grande jornalista, que lançou a publicação dos argentinos no Brasil. Graça é irmã de outra grande jornalista, Suely Caldas, diretora do Estadão no Rio. Que saudade da Graça!
Lembro que, com o dólar a 1 por 1 (real), eu ganhava 100 dólares por saída, à noite, para cobrir determinados eventos. Hoje, los hermanos pagam uma miséria.
(uma dessas saídas foi para um jantar-purgante, oferecido pelo Ricardo Amaral para comemorar o niver do Julio Lopes, no restaurante do Hippo, onde não emiti qualquer som, não disse uma palavra e causei um mal-estar generalizado, porque sempre achei o Ricardo Amaral um porre, e continuo achando, nunca o adulei para tomar champanhe de graça e comer feijão em sua feijoada de Carnaval, mas isso é assunto para outra ocasião).
Mas a Luciana Gimenez, depois de agachar e mijar umas dez vezes....
Fomos para a casa da ilha, vimos o casal dançar (os divertidos que moram em Londres), e almoçamos lá perto da noite (uma macarronada deliciosa, servida com garfo e faca, com o que sinalizei ser “esquisito de comer”, mas com o melhor bom humor, o que foi entendido erradamente por todos à mesa, e logo fui encarado como “o chato” da tarde, menos pela Luciana, a quem já havia conquistado por um dia.
De fato, sou chato mesmo, e não tou nem aí para o que pensam de mim. E achei toda aquela turma de novos ricos um porre, mas fazer o quê? Precisava da carona, precisava voltar para casa. Eles estavam deslumbrados com a presença da Luciana, porque ela aparecia na capa da “Caras” e em oito páginas no miolo, e eu nem aí, até porque já havia visto a musa mijar agachada no matinho da ilha trocentas vezes. Entende o meu raciocínio?
Logo veio a noite e alguém já havia conseguido uma “carona” para voltarmos, eu, a Luciana e suas malas, rumo ao Rio capital, “qualquer posto de gasolina” que o motorista nos deixasse “na Dutra” estaria ótimo, pensamos.
O carro era um fusca caindo aos pedaços e o motorista seguia para o trabalho, um cara muito gente boa, diga-se. Muito gentil. Mas mesmo naquele fusquinha, ele corria tanto ou mais que o Ayrton Senna, nos levando ao desespero vez por outra. Foi a viagem mais desesperadora que fiz na vida - arrisco também a dizer que deva ter sido até para Luciana. É claro que ela lembra disso.
Foi assim o meu encontro com a Luciana Gimenez. Ao chegarmos no posto de gasolina da Dutra, onde havia um ponto de táxi, beijos, abraços, juras de amizade eterna, troca de telefones e e-mails.
Só nos reencontramos na tal festa dos Monteiro de Carvalho, anos depois, onde, conta a lenda, ela, sabidíssima, carregou o Mick Jagger para o jardim para fazer seu filho-cofre-forte.
Mas isso é assunto para outra ocasião.
PS. Lembro que no sábado desse finde fomos à Ilha de Caras. Acho que era a segunda edição da ilha, e o evento da revista não era esse furdunço que é hoje em dia, com spas fazendo máscaras de argila comprada no supermercado da esquina. A bordo de uma lancha, não lembro de quem, mas sei que o Ciomar que pilotava, paramos no deque e subimos. Era naquela ilha da Irene Singery, uma trilha imensa até chegar ao alto, numa quadra de esportes onde o Ciomar jogou vôlei, foi fotografado, deu entrevista. Até que chegou a hora de ir embora. Gente, o que nós carregamos de latinhas de cerveja e refrigerantes para a lancha, eu nem te conto. Lembro que o editor da revista, Sérgio Zalis, olhava para a gente com cara feia, mas fazer o quê? Depois disso, o Marcio foi proibido de aparecer na Caras, mas tudo já passou.
Delícia de crônica, Marcio!
ResponderExcluirQuem é o Ciomar? É o próprio Márcio Garcia?
ResponderExcluirÉ. Marcio só chama os amigos íntimos dizendo os nomes a partir do final. Ciomar é Marcio, Locemar, Marcelo...
ResponderExcluirAssim nos chamávamos.
Agora Gimenez fica posando de "boa mãe" na alta sociedade paulistana...
ResponderExcluirE ainda por cima, é considerada como um "exemplo" para muitas meninas!!!Isso é que é inversão de valores...Bjus Márcio
Mas ela é boa gente, Anônimo! Batalhadora.
ResponderExcluirP que vc acha que ela diria dessa história, hj, no SuperPop????
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