quinta-feira, março 26, 2009

Sebastião Camargo, fundador da Camargo Corrêa

Sebastião Camargo, o fundador da construtora Camargo Corrêa, viveu umbilicalmente ligado à terra e preservou os costumes sertanejos. Sempre com um cachimbo na boca, reservava os fins de semana para se atirar no mato. Não era raro ele se aventurar em caçadas no Mato Grosso. Podia-se medir a paixão observando a coleção particular de animais empalhados na fazenda em Jaú (SP), cidade em que nasceu a 25 de setembro de 1909. Pelo menos uma vez por ano embrenhava-se em alguma selva africana. Tudo mudou radicalmente em 1988, quando o caçador quase virou caça. Ao deparar com um leão, ele mirou a fera e errou o alvo. O felino correu em direção ao empresário e, não fosse a providencial ajuda do guia, que liquidou o animal faminto com um tiro certeiro, a diversão teria terminado em tragédia. "Ele dedicou-se ainda à criação de javalis, patos, gado e cavalos", disse a ISTOÉ o amigo e ex-funcionário João Mattos.

Sebastião Ferraz de Camargo Penteado era filho de agricultores e estudou só até o terceiro ano primário. Aos 17 anos, aprendeu a transportar terra retirada de construções usando uma carroça puxada por um burro. Tomou gosto pelo negócio e, em 1939, comprou duas carroças. Com a pá em punho e as rédeas nas mãos, Camargo ajudou a construir as estradas que se multiplicavam pelo interior de São Paulo na época.

Logo aprendeu a técnica da terraplenagem e se transformou num modesto empreiteiro. Quando conheceu o advogado Sylvio Corrêa, ainda em 1939, abriu com ele uma pequena construtora, a Camargo Corrêa & Cia Ltda. Engenheiros e Construtores, com um capital de 200 contos de réis. Como eles nada entendiam de engenharia, a palavra "engenheiros" foi usada para salientar que os empreendedores estavam dispostos a qualquer empreitada. E trabalho não faltava. Em 1940, Camargo adquiriu um trator, o que significou grande vantagem tecnológica em relação à concorrência. Os contratos se avolumaram. O astuto "Bastião", como era chamado pelos mais íntimos, ou "China", para a maioria, devido aos traços orientais de seus olhos, não admitia homem barbudo, cabeludo ou desquitado na firma. Certa vez, um engenheiro que não fizera a barba, sem saber da implicância do seu Bastião, candidatou-se a uma vaga na construtora e foi reprovado. Inconformado, procurou um psicólogo para entender a importância da barba num processo de seleção. Em Jaú, Camargo fundou a tecelagem Companhia Jauense Industrial porque queria proporcionar trabalho a seus conterrâneos. Conseguiu mais do que isso - transformou a empresa numa grande produtora de tecidos.

Nos anos 50, a construção de Brasília era o sonho maior do empreiteiro. Ao participar da licitação, ouviu de um assessor do presidente Juscelino Kubitschek que a Camargo Corrêa não tinha máquinas em número suficiente para encarar as obras da nova capital. "Pois então me dê três dias e eu provo que o senhor está enganado", respondeu, contrariado. Quando o prazo expirou, o empresário desfilou pelo cerrado com mais de 100 tratores vindos de seus canteiros de São Paulo, Rio de Janeiro e Goiás. Resultado: coube à Camargo Corrêa a abertura de várias estradas que possibilitaram o acesso à capital federal. Em 1960, JK sugeriu que Camargo construísse um moinho de trigo para abastecer Brasília. Preocupado com o rigor técnico que a tarefa exigia, ele tratou de "importar" um especialista em moinho da Suíça para garantir a qualidade do serviço. Batizou-o de Moinho de Trigo Jauense. Em 1962, quando a empreiteira construiu a hidrelétrica Usina de Jupiá, no rio Paraná, uma das maiores do Brasil, concluída em 1968, a imponência da obra obrigou que uma cidade fosse construída ao seu redor para alojar os 12 mil funcionários.

Nos anos 70, a construtora entrou na licitação para as obras da ponte Rio-Niterói e tirou o segundo lugar. Até parece que rogou uma praga. Morte de pedreiros e desmoronamentos em meio à construção da ponte obrigaram o presidente Emílio Garrastazu Médici a pedir ao audacioso empreiteiro que assumisse a obra. "Pois não, senhor presidente, mas vou fazer do meu jeito. Vou começar derrubando tudo e partir do zero", respondeu Camargo.

Bilionário 
A empresa foi responsável por mais de mil obras (incluindo as rodovias Imigrantes e Bandeirantes, o gasoduto Brasil-Bolívia, além da usina nuclear de Angra I e as hidrelétricas de Ilha Solteira, Itaipu e Tucuruí). A partir dos anos 90, Camargo passou a fazer parte da lista de bilionários da revista Forbes e sua fortuna pessoal foi avaliada em US$ 1,3 bilhão. Era casado e tinha três filhas e 11 netos. O controle da holding Morro Vermelho, que abrangia 34 empresas dos mais variados setores, incluindo agricultura, siderurgia, têxtil, alumínio e transporte, passou para os genros logo após sua morte por insuficiência respiratória, a 26 de agosto de 1994.

VOCÊ SABIA?
Na construção de Itaipu, quase provocou um atrito diplomático. A Camargo Corrêa não havia sido aceita para a obra do lado brasileiro. O ditador paraguaio Alfredo Stroessner, amigo de pescaria do construtor, protestou: "Onde está Don Sebastián?" Ameaçou melar o negócio, obrigando o governo brasileiro a contratar a Camargo Corrêa

 Fonte: Isto É.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Aproveita e me mande aquela notícia quente! blogmarciog@gmail.com