segunda-feira, fevereiro 25, 2019
"Estadão" paulista destrói Bolsonaro em editorial
Editorial publicado terça, 19/2. Leia:
"Muito ajuda quem não atrapalha
"Não tem a menor importância, para o País, o desfecho da crise envolvendo o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno. Sem qualquer predicado que o tornasse especialmente relevante para o processo de tomada de decisões do governo, sua permanência ou não no Ministério de Jair Bolsonaro só interessava de fato aos filhos do presidente, publicamente empenhados em escolher os ministros e governar no lugar do pai. Já o presidente Bolsonaro, seja porque é despreparado para exercer o cargo para o qual foi eleito, seja porque não consegue impor limites aos filhos, seja por uma combinação dessas duas características, revela-se incapaz de colocar ordem na casa e concentrar energias naquilo que é realmente necessário para o País.
"Assim, não tendo o presidente a necessária condição técnica e administrativa para substituir Bebianno a tempo e a hora, e muito menos coragem para enquadrar seus meninos, comete o pecado capital de deixar o Brasil ser governado por um quadrunvirato.
"E fez isso às vésperas do início da tramitação de projetos de extrema relevância para o conjunto dos brasileiros, como a reforma da Previdência e o plano de segurança pública, perdendo-se o governo em futricas e picuinhas palacianas, cujo poder de causar confusão e desgaste é multiplicado pela onipresença da criançada.
"Foi pelas redes sociais que a crise envolvendo Bebianno atingiu seu ápice. Pelo Twitter, Carlos Bolsonaro, um dos filhos do presidente, chamou Bebianno de “mentiroso”, no que foi endossado pelo pai. Nada nesse episódio lembra remotamente algo parecido com o respeito à institucionalidade que se exige de quem ocupa o Palácio do Planalto. Tal comportamento pode até excitar os militantes bolsonaristas nas redes, mas desgasta profundamente a imagem de um governo cujo presidente prometeu, em seu discurso de posse, “hierarquia, respeito, ordem e progresso”, mas até agora só protagonizou confusões e patuscadas.
"Felizmente, nem todos no governo compartilham com Bolsonaro sua profunda falta de reverência pela instituição presidencial, comprovada não apenas pelo modo desleixado como se apresentou numa reunião ministerial, de chinelos e camisa falsificada de time de futebol, mas sobretudo por permitir que seus filhos atuem como se ministros plenipotenciários fossem. Há assessores que estão genuinamente empenhados em fazer o governo funcionar, tentando dar à administração uma feição minimamente sólida. No Congresso também há parlamentares que se comprometeram a fazer avançar as reformas, mesmo com o desgaste político que o tema suscita.
"A rigor, pode-se dizer que a pauta mais importante do governo está avançando não por méritos do presidente Bolsonaro, mas a despeito dele. Enquanto o chefe de governo se permite perder precioso tempo com os devaneios de poder dele e dos filhos, inclusive com fantasiosas conexões internacionais para a inclusão do Brasil num movimento “antiglobalista”, alguns ministros buscam tocar o barco, sem ter, contudo, a menor certeza se o “capitão” da embarcação sabe para onde pretende ir.
"Antes tudo isso fosse método, e não apenas o amadorismo irresponsável tão característico do baixo clero, de onde saíram o presidente Bolsonaro e seu fanático entorno. Está ficando cada vez mais claro, porém, que Bolsonaro, em razão de seus limites mais que evidentes, não tem mesmo a menor ideia do que é ser presidente e do que dele se espera num momento tão grave como este.
"Desnorteado, governando ao sabor da gritaria nas redes sociais, o presidente deixou de construir uma articulação organizada no Congresso. Seu partido é um amontoado de novatos que se elegeram pegando carona em seu nome; os líderes que escolheu para negociar apoio dos parlamentares são igualmente inexperientes – um deles chegou a convocar uma reunião de líderes partidários na Câmara à qual ninguém compareceu; por fim, mas não menos importante, nem mesmo Bolsonaro parece convencido da necessidade de uma profunda reforma na Previdência, dado que passou a vida inteira como parlamentar a boicotar mudanças nas aposentadorias. Seria ingênuo acreditar que Bolsonaro, de uma hora para outra, passará a se comportar como presidente e assumirá as responsabilidades de governo. Mais realista é torcer para que ele, pelo menos, pare de atrapalhar."
segunda-feira, fevereiro 18, 2019
domingo, fevereiro 17, 2019
segunda-feira, fevereiro 11, 2019
SINHÁ DONATA: de crente que está abafando, a abafada da vez em um clique
Donata Meirelles, a diretora insossa da revista "Vogue Brasil" (@Voguebrasil), que dirigia a Daslu à época daquele escândalo de sonegação, resolveu chamar os amigos da rançosa elite branca paulistana (a mesma que elegeu Alexandre Frota, João Dória e o filho do Bolsonaro) para uma festança de três dias na Bahia, a fim de comemorar seus 50 anos. A turma (incluindo as bichas serviçais de sempre) se engalanou e partiu rumo à mais festiva e interessante das capitais brasileiras, alguns a bordo do seu próprio avião, outros, em voos comerciais. A programação era um jantar num palácio do governo na noite de sexta, um almoço num restaurante badalado na tarde de sábado, e um brunch no (pasme) terreiro da Mãe Meninina do Gantois, domingo. A ordem para a turma midiática - todos são loucos pela mídia - era divulgar as fotos na internet sob a hashtag #doshow50
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Tudo seguia às mil maravilhas quando a primeira foto surgiu no Instagram. Mostrava a aniversariante, vestida de Valentino (roupa esta que saiu na capa da "Vogue", e por isso mesmo a gente não sabe se Donata pagou ou ganhou), sentada em uma "cadeira de sinhá", ao lado de duas baianas lindas, pretas, com "roupa de mucama". O tempo fechou.
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A reação da comunidade preta - e dos brancos que não compactuam com racismo - surgiu como um tsunami. Mas houve a defesa também por parte de quem quer sair na "Vogue" ou ir ao baile de Carnaval da revista. No Twitter, a hashtag #Donata chegou aos tranding topics. No Instagram, a hashtag #doshow50 chamava tanto festejos quanto críticas muito ácidas.
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Celebridades pretas dos mais variados segmentos se revoltaram. No Brasil e no mundo. Até a poderosa diretora da Loreal nos Estados Unidos, Shelby Ivey Christie, sentou a pua.
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Donata sentiu o tranco, e se desculpou no Instagram. Disse que não era racismo, que a roupa das baianas não era "de mucama", muito menos a cadeira era "de sinhá", mas de mãe-de-santo do Candomblé, que a festa era "uma homenagem à cultura baiana", e mais, e mais.
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A emenda piorou o soneto, e o povo "do axé", que é como são chamados os candomblecistas, gritou alto, dizendo que o posto de Ialorixá "não é bagunça", que Donata "não é do axé" etc., etc, e que por isso não pode sair por aí a sentar na cadeira de espaldar alto, que é sagrada.
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A antipatia que conservo pela aniversariante desde muito não me dá o direito de garantir que a mesma sabia que sua festa seria nesse ritmo de Brasil colonial, com escravas paramentadas a guardar um trono onde toda aquela gente branca e rica se sentaria a posar como senhores de engenhos, mas sinhá Donata foi, no mínimo, burra (ou vaidosa) quando chegou ao rebu e não ressignificou a cena.
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Está bem. Era uma cadeira de mãe de santo, a rainha do terreiro? Pusesse uma baiana sentada e fizesse com que os brancos convidados se sentassem no chão (num tapete, vá lá) para as fotos, ao lado "de mainha", como manda a reverência do Candomblé. As baianas não eram mucamas, mas recepcionistas, e não estavam ali a fritar acarajé para os convivas? Que fossem vestidas com os melhores modelos da alta costura, ou do pret-a-porter, para receber a turma de Sumpaulo. Era uma "homenagem à cultura baiana"? Mostrasse fotos das tais "mucamas" dividindo as palacianas mesas do banquete com os perfumados seres paulistas.
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Ora, não é porque a festa é na Bahia que as mulheres de lá tenham de ir vestidas de Carmen Miranda! As socialites soteropolitanas foram de roupa de renda, com guias de santos? Não. A mulher do prefeito ACM foi vestida à lá Olodum? É claro que não!
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Mas afora toda revolta legítima da comunidade preta, que ainda anda brotando nas stories do Instagram à espera de um posicionamento da Editora Globo (dona no Brasil) e da Conde Nast (dona da marca Vogue no mundo), talvez a pá de cal mais acachapante tenha sido jogada por aquela que foi a mais emblemática e inesquecível diretora da revista "Vogue", a espevitada, apimentada e competentíssima Regina Guerreiro, que não perdoou, leia abaixo:
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"Festança high-society, especial para deslumbrados & deslumbradas. Foi mal. Enredo mofado, completamente nonsense, completamente out good fashion. Mucamas (engomadas/embabadadas) abanam sinhazinha que, tadinha/alienadinha!!, não sabe que a escravidão já acabou. UiUiUi! Aiaiai, Brasiiil."
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Eu, se fosse a Donata, me enfiava no primeiro buraco que encontrasse na calçada do Jardim Europa. E só saía em 2020.
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PS. A repercussão negativa foi tanta, que o terreiro do Gantois resolveu impedir o brunch de domingo.
A FOTO QUE DESENCADEOU A REVOLTA (AS BAIANAS ESTÃO
CAMUFLADAS PARA NÃO EXPÔ-LAS AO CONSTRANGIMENTO AQUI)
AS MESAS DO BANQUETE. ONDE AS "HOMENAGEADAS"
"MUCAMAS" NÃO PUDERAM SE SENTAR.
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