Donata Meirelles, a diretora insossa da revista "Vogue Brasil" (@Voguebrasil), que dirigia a Daslu à época daquele escândalo de sonegação, resolveu chamar os amigos da rançosa elite branca paulistana (a mesma que elegeu Alexandre Frota, João Dória e o filho do Bolsonaro) para uma festança de três dias na Bahia, a fim de comemorar seus 50 anos. A turma (incluindo as bichas serviçais de sempre) se engalanou e partiu rumo à mais festiva e interessante das capitais brasileiras, alguns a bordo do seu próprio avião, outros, em voos comerciais. A programação era um jantar num palácio do governo na noite de sexta, um almoço num restaurante badalado na tarde de sábado, e um brunch no (pasme) terreiro da Mãe Meninina do Gantois, domingo. A ordem para a turma midiática - todos são loucos pela mídia - era divulgar as fotos na internet sob a hashtag #doshow50
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Tudo seguia às mil maravilhas quando a primeira foto surgiu no Instagram. Mostrava a aniversariante, vestida de Valentino (roupa esta que saiu na capa da "Vogue", e por isso mesmo a gente não sabe se Donata pagou ou ganhou), sentada em uma "cadeira de sinhá", ao lado de duas baianas lindas, pretas, com "roupa de mucama". O tempo fechou.
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A reação da comunidade preta - e dos brancos que não compactuam com racismo - surgiu como um tsunami. Mas houve a defesa também por parte de quem quer sair na "Vogue" ou ir ao baile de Carnaval da revista. No Twitter, a hashtag #Donata chegou aos tranding topics. No Instagram, a hashtag #doshow50 chamava tanto festejos quanto críticas muito ácidas.
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Celebridades pretas dos mais variados segmentos se revoltaram. No Brasil e no mundo. Até a poderosa diretora da Loreal nos Estados Unidos, Shelby Ivey Christie, sentou a pua.
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Donata sentiu o tranco, e se desculpou no Instagram. Disse que não era racismo, que a roupa das baianas não era "de mucama", muito menos a cadeira era "de sinhá", mas de mãe-de-santo do Candomblé, que a festa era "uma homenagem à cultura baiana", e mais, e mais.
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A emenda piorou o soneto, e o povo "do axé", que é como são chamados os candomblecistas, gritou alto, dizendo que o posto de Ialorixá "não é bagunça", que Donata "não é do axé" etc., etc, e que por isso não pode sair por aí a sentar na cadeira de espaldar alto, que é sagrada.
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A antipatia que conservo pela aniversariante desde muito não me dá o direito de garantir que a mesma sabia que sua festa seria nesse ritmo de Brasil colonial, com escravas paramentadas a guardar um trono onde toda aquela gente branca e rica se sentaria a posar como senhores de engenhos, mas sinhá Donata foi, no mínimo, burra (ou vaidosa) quando chegou ao rebu e não ressignificou a cena.
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Está bem. Era uma cadeira de mãe de santo, a rainha do terreiro? Pusesse uma baiana sentada e fizesse com que os brancos convidados se sentassem no chão (num tapete, vá lá) para as fotos, ao lado "de mainha", como manda a reverência do Candomblé. As baianas não eram mucamas, mas recepcionistas, e não estavam ali a fritar acarajé para os convivas? Que fossem vestidas com os melhores modelos da alta costura, ou do pret-a-porter, para receber a turma de Sumpaulo. Era uma "homenagem à cultura baiana"? Mostrasse fotos das tais "mucamas" dividindo as palacianas mesas do banquete com os perfumados seres paulistas.
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Ora, não é porque a festa é na Bahia que as mulheres de lá tenham de ir vestidas de Carmen Miranda! As socialites soteropolitanas foram de roupa de renda, com guias de santos? Não. A mulher do prefeito ACM foi vestida à lá Olodum? É claro que não!
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Mas afora toda revolta legítima da comunidade preta, que ainda anda brotando nas stories do Instagram à espera de um posicionamento da Editora Globo (dona no Brasil) e da Conde Nast (dona da marca Vogue no mundo), talvez a pá de cal mais acachapante tenha sido jogada por aquela que foi a mais emblemática e inesquecível diretora da revista "Vogue", a espevitada, apimentada e competentíssima Regina Guerreiro, que não perdoou, leia abaixo:
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"Festança high-society, especial para deslumbrados & deslumbradas. Foi mal. Enredo mofado, completamente nonsense, completamente out good fashion. Mucamas (engomadas/embabadadas) abanam sinhazinha que, tadinha/alienadinha!!, não sabe que a escravidão já acabou. UiUiUi! Aiaiai, Brasiiil."
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Eu, se fosse a Donata, me enfiava no primeiro buraco que encontrasse na calçada do Jardim Europa. E só saía em 2020.
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PS. A repercussão negativa foi tanta, que o terreiro do Gantois resolveu impedir o brunch de domingo.
A FOTO QUE DESENCADEOU A REVOLTA (AS BAIANAS ESTÃO
CAMUFLADAS PARA NÃO EXPÔ-LAS AO CONSTRANGIMENTO AQUI)
AS MESAS DO BANQUETE. ONDE AS "HOMENAGEADAS"
"MUCAMAS" NÃO PUDERAM SE SENTAR.
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