Pelo menos uma coisa positiva a tempestade daquela semana, que quase derrubou o Túnel Rebouças, trouxe ao Rio: uma força-tarefa para a conservação da Praça Paris. Se antes do temporal, o quadrado mágico da Glória, da Cidade-Luz só tinha o nome, agora, o panorama é outro. Inaugurado em 1929, na gestão do prefeito Antônio Prado Júnior, aquele pedaço cercado de topiarias está prestes a voltar a ser um cartão-postal. A Fundação Parques e Jardins deu um trato no lugar, como se diz, mas ainda falta muito:"Você não viu nada, meu filho. Isso aqui é um caos. À noite, é um antro de perdição, eles fazem sexo em pé na grade", indigna-se a sessentona Terezinha, "sem sobrenome, por favor", camiseta desvendando sarados bíceps, que há anos leva o poddle Fly para "tomar a fresca" ao redor daqueles arbustos moldados a la Versailles.
Exageros à parte, e pedido de desculpas ao Rei Sol pela comparação com o incomparável, a indignação do carioca com os maus-tratos à Praça Paris vem de muito tempo. Mesmo quem não mora nos bairros adjacentes escreve aborrecido para as seções de cartas dos jornais. As queixas são as mesmas: grades malcuidadas, bustos avariados, postes seculares sem cúpulas ou com algumas sem estilo e de plástico, banheiro de travestis à noite e de taxistas durante o dia, hotel de mendigos em plena tarde, falta de policiamento. O serviço público se defende colocando a culpa na "ação dos vândalos".
O chafariz, que já jorrou água azul, vermelho e branca, em alusão à bandeira da França, nos festejos do centenário da Queda da Bastilha, graças a um efeito da iluminação, funciona hoje à meia-bomba. A Rioluz garante que deficiências neste setor são resultado do roubo de cabos de energia. As ditas cúpulas também são alvo da ação dos vândalos. Mas como nem tudo é só lixo jogado no chão, olhai os lírios do campo: as flores teimam em aparecer, amarelinhas, no que são muito bem-vindas no contexto geral. "A gente faz o que pode, para manter tudo em ordem, mas o efetivo é pouco, milagre só Jesus pode fazer", diz um guarda municipal, de serviço embaixo de uma árvore, porque cabine não há, o bebedouro também sumiu. O representante fardado da Prefeitura pede para não ser identificado: "A gente não pode dar entrevistas", se justifica.
As últimas chuvas trouxeram muita sujeira à praça projetada pelo francês Donnat Alfred Agache. Um mar de lama, e aqui não vai nenhuma comparação com a administração pública municipal chegada às vacas. Alguns dos bustos moldados pelo escultor José Otávio Correia Lima, que homenageiam personagens da história, como o Almirante Barroso - e sua Batalha do Riachuelo (1865), precisam de indentificação. Ao alcance da mão do homem, não há sequer uma letra de bronze para contar a história - só ficaram os buracos dos parafusos. A estátua do Conde Afonso Celso, de Francisco Adolpho de Varnhagen, o Visconde de Porto Seguro, e de tantos outros, estão sem a "certidão de nascimento" tão importante para informar os visitantes de ocasião. As grades, instaladas em 1992, na gestão do governador Marcello Alencar (48,7 mil metros de ferro), ganharam uma demão de tinta cinza-chumbo, para conter a ferrugem.
Logo depois da restauração promovida pelo governo do Estado, a Praça Paris virou quase que mania dos cariocas. Todo mundo encontrava tempo para dar uma passadinha, se sentar nos bancos de madeira para ler o último livro de Jeff Thomas, praticar o footing à sua volta. Em 1994, Bibi Ferreira, que estrelava um espetáculo grandioso no teatro, dando voz à francesa Edith Piaf, com elenco operístico, levou a cena para a praça da Glória. Foi um acontecimento que parou o Rio, ou não seria a Bibi cantando "La vie en rose", "Hino ao amor" e "Je ne regretterien".
Houve também, para alegria dos fotógrafos e admiradores das artes plásticas, uma grande exposição ao ar livre, que atraía gente o dia inteiro e de diversos lugares da cidade. Entusiasmada, a Prefeitura anunciou diversas ações culturais para o lugar. Falava-se em novos eventos e que até surgiria ali uma cafeteria e um quiosque para a venda de souvenirs aos turistas. Ficou na promessa.
Mas pelo menos dê-se graças a Deus, porque nenhum tolinho da área municipal decidiu fazer dali pasto para a indigesta Cow Parade.
Exageros à parte, e pedido de desculpas ao Rei Sol pela comparação com o incomparável, a indignação do carioca com os maus-tratos à Praça Paris vem de muito tempo. Mesmo quem não mora nos bairros adjacentes escreve aborrecido para as seções de cartas dos jornais. As queixas são as mesmas: grades malcuidadas, bustos avariados, postes seculares sem cúpulas ou com algumas sem estilo e de plástico, banheiro de travestis à noite e de taxistas durante o dia, hotel de mendigos em plena tarde, falta de policiamento. O serviço público se defende colocando a culpa na "ação dos vândalos".
O chafariz, que já jorrou água azul, vermelho e branca, em alusão à bandeira da França, nos festejos do centenário da Queda da Bastilha, graças a um efeito da iluminação, funciona hoje à meia-bomba. A Rioluz garante que deficiências neste setor são resultado do roubo de cabos de energia. As ditas cúpulas também são alvo da ação dos vândalos. Mas como nem tudo é só lixo jogado no chão, olhai os lírios do campo: as flores teimam em aparecer, amarelinhas, no que são muito bem-vindas no contexto geral. "A gente faz o que pode, para manter tudo em ordem, mas o efetivo é pouco, milagre só Jesus pode fazer", diz um guarda municipal, de serviço embaixo de uma árvore, porque cabine não há, o bebedouro também sumiu. O representante fardado da Prefeitura pede para não ser identificado: "A gente não pode dar entrevistas", se justifica.
As últimas chuvas trouxeram muita sujeira à praça projetada pelo francês Donnat Alfred Agache. Um mar de lama, e aqui não vai nenhuma comparação com a administração pública municipal chegada às vacas. Alguns dos bustos moldados pelo escultor José Otávio Correia Lima, que homenageiam personagens da história, como o Almirante Barroso - e sua Batalha do Riachuelo (1865), precisam de indentificação. Ao alcance da mão do homem, não há sequer uma letra de bronze para contar a história - só ficaram os buracos dos parafusos. A estátua do Conde Afonso Celso, de Francisco Adolpho de Varnhagen, o Visconde de Porto Seguro, e de tantos outros, estão sem a "certidão de nascimento" tão importante para informar os visitantes de ocasião. As grades, instaladas em 1992, na gestão do governador Marcello Alencar (48,7 mil metros de ferro), ganharam uma demão de tinta cinza-chumbo, para conter a ferrugem.
Logo depois da restauração promovida pelo governo do Estado, a Praça Paris virou quase que mania dos cariocas. Todo mundo encontrava tempo para dar uma passadinha, se sentar nos bancos de madeira para ler o último livro de Jeff Thomas, praticar o footing à sua volta. Em 1994, Bibi Ferreira, que estrelava um espetáculo grandioso no teatro, dando voz à francesa Edith Piaf, com elenco operístico, levou a cena para a praça da Glória. Foi um acontecimento que parou o Rio, ou não seria a Bibi cantando "La vie en rose", "Hino ao amor" e "Je ne regretterien".
Houve também, para alegria dos fotógrafos e admiradores das artes plásticas, uma grande exposição ao ar livre, que atraía gente o dia inteiro e de diversos lugares da cidade. Entusiasmada, a Prefeitura anunciou diversas ações culturais para o lugar. Falava-se em novos eventos e que até surgiria ali uma cafeteria e um quiosque para a venda de souvenirs aos turistas. Ficou na promessa.
Mas pelo menos dê-se graças a Deus, porque nenhum tolinho da área municipal decidiu fazer dali pasto para a indigesta Cow Parade.
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